quinta-feira, novembro 04, 2004

A parada tá rolando!




Quem estiver passando por Sampa, é só me dar um toque que ganha vip. Se quiser mandar um som, melhor ainda!

Valeu!

sábado, outubro 30, 2004

O Pavilhão 9 e o Tanque de Guerra!


Fotos by Fabio Kalunga

Quanta falta que fazia esta banda! Havia mais de um ano que o pessoal do Pavilhão 9 não dava as caras, mesmo em apresentações ao vivo. Se o grupo conseguiu um inesperado sucesso nacional com seu último álbum, "Reação" (de 2001), parece que toda a exposição fez diluir a força desta banda diante das constantes oscilações do mercado fonográfico nacional. Pois o Pavilhão fez muita falta sim! O peso do crossover metal moderno+hip-hop do grupo realmente não encontra paralelos no Brasil, e talvez até mesmo no mundo. Misturar rap com metal acaba dando no tal do nu metal, que é sinônimo de bandecas de merda mega-produzidas e que ficam cantando as arguras de traumas de infância sobre bases pseudo-pesadas - a versão atual de fenômenos adolescentes tipo Backstreet Boys, só que lotados de piercings, tatuagens e poses de fodões-melacólicos. Pois é... O Pavilhão 9 chuta pra escanteio toda esta frescurada! É porrada moderna, com conteúdo e com groove. E o show do último dia 26 de outubro, no Itaú Cultural (São Paulo), foi a prova viva de que os caras ainda quebram tudo!

O Pavilhão 9 fez história antes mesmo dela acontecer. Explico: a banda surgiu com este nome em homenagem a um mano que encontrava-se preso no tal pavilhão do Presídio do Carandiru, isso em 1989. Pois a história fez com que o grupo ficasse nacionalmente famoso por conta do massacre de mais de uma centena de presos promovido pela PM paulista alguns anos mais tarde, no mesmo pavilhão 9 - o que acabou servindo de pano de fundo para o livro (de Drauzio Varela) e o filme (de Hector Babenco) "Carandiru". Outro fato que chamou a atenção para a banda foi que os rappers do grupo (na época, Piveti e Rhossi - único remanescente original) tinham que se apresentar mascarados nos shows, para depois caírem fora sem se identificarem, tudo por conta da explosiva canção chamada "Otários Fardados" - os canas eram doidos para enquadrarem os caras e darem-lhes umas bofetadas no xadrez. Mas a real é que o grupo não ficava somente na polêmica dos fatos e apresentava a cada disco um coquetel explosivo de hip-hop e uma crescente influência de heavy metal ao longo de seus lançamentos. "Pimeiro Ato", de 1992, já contava com participações de Edu K (De Falla) e João Gordo (Ratos de Porão) e já acenava com o crossover de guitarras pesadas. "Cadeia Nacional", o terceiro disco, fez a fama (merecida) do Pavilhão 9 com excelentes faixas como "Opalão Preto" e "Mandando Bronca", além de contar com marcantes participações de Marcelo D2, Igor e Max Cavalera e Nação Zumbi. "Se Deus Vier, Que Venha Armado", de 1999, tinha título e sonoridade muito mais pesados e "Vai Explodir" foi o único hit de um disco sensacional mas pouco ouvido. "Reação" os trouxe de volta ao mainstream, mas a poeira logo baixou. Atualmente eles se encontram na finalização do disco novo - "Público-Alvo", que deverá ser lançado no início de 2005.

Ao vivo, não seria exagero afirmar que o baterista Fernandão comanda o ritmo da banda - o cara é um tanque de guerra nas baquetas! Ele socava um kit mínimo no show desta terça com tal força que várias baquetas se quebraram ao longo de pouco mais de meia hora de detonação, ops, apresentação. Músicas novas como "Tô Na Minha", "Policial e Cidadão" e "Expressão" revelaram uma sonoridade pesadíssima nas guitarras (Marinho e Munassi), com samples de filme de terror comandados pelo DJ Paulo, além do baixo ultra-grave de Ortega. Rhossi e Doze despejavam palavras de ordem a todo momento sem perder a ginga. Um fato curioso era a aparência atual de Rhossi: uma versão mano do Zé Ramalho (acreditem!). Entre mortos e feridos, o Pavilhão 9 voltou a mostrar sua cara. Cuidado para não se machucar, pois o show destes caras é pra bater cabeça, que fique bem entendido!
+fotos:


sábado, outubro 16, 2004

Aos Interessados...


*Imagem by Cd Now.com

DVD: DJ Shadow - Live! In Tune and on Time (Jewel
Case)


O norte-americano Josh Davis, conhecido pela alcunha de DJ Shadow, pode ser considerado um dos (muitos) pilares da revolução musical que a música eletrônica como um todo promoveu nos anos 90 ao chegar no mainstream, e que parece ter criado um big bang de combustível infinito, tamanhas as possibilidades que se multiplicam à mesma velocidade em que as tecnologias evoluem desde então. Em quatro discos, ele produziu um instigante mix de rock, funk, jazz, soul, dub, ruídos de vinil empoeirado, climas noir, melodias vocais sampleadas dos cânticos mais obscuros da música black, além de grooves espertos e inteligentes. Sua criatividade e seu conhecimento musical se resumem na foto do encarte do CD "Endtroducing...", onde a imagem de um sebo de vinis de um canto qualquer do planeta e de vários anônimos ali à procura de peças raras (um deles poderia ser o próprio Shadow) se torna emblemática: trata-se de um universo de referências, das quais o passado sempre é utilizado para contar uma história presente e que acabará por promover a busca por um futuro mais catalizador de novas e antiquíssimas
influências.

Portanto, o lançamento recente do DVD+CD ao vivo "Live! In Tune and on Time (Jewel Case)" acaba se tornando essencial para compreender a carreira deste talento raro e de sua forma de atuar e produzir. Trata-se de uma apresentação "ao vivo" num palco de
verdade, onde Shadow risca, cola, mixa, altera e cria músicas próprias utilizando-se em tempo real de discos alheios e de ruídos eletrônicos produzidos pelo próprio. Sua técnica é impressionante! Além de demonstrar faro musical instantâneo em conjunto com um quase malabarismo com as mãos no equipamento, o DJ também funde em tempo real imagens que se casam perfeitamente com as músicas apresentadas. O caráter "ao vivo" se entende pelo fato de suas músicas originais gravadas em disco serem absolutamente
desconstruídas, criando-se algo totalmente novo e ao mesmo tempo preservando o "original" - é preciso utilizar-se de aspas com este termo, pois o DNA de sua música é composto de uma cadeia infinita de referências alheias. Para os afccionados pela cultura eletrônica, assistir DJ Shadow neste DVD se torna algo desafiador, pois as possibilidades tecnológicas ali empregadas estão cada vez mais ao alcance das massas. Ao mesmo tempo que, se você pretendia um dia se tornar DJ, este vídeo pode se tornar um desestímulo, pois a forma como este sujeito faz seu ofício é para poucos!

Mas não é só isso...

A Quem Interessa?

Quem compraria um DVD de DJ que não fosse um próprio DJ??? Indo mais fundo na questão: será que o público que ouve (dança) música eletrônica e sustenta este universo paralelo se interessaria em desembolsar uns trocados para ver um DJ "tocando música dos outros" na televisão de sua casa? Faço estas perguntas porque a música eletrônica produzida para as pistas de dança - a dance music - lida basicamente com ritmo, numa espécie de transe coletivo e ao mesmo tempo individualista ao extremo (uma união de corpos juntos no mesmo local, cada qual em seu mundo individual - a catarse coletiva, neste caso, é virtual, imaginária, impessoal, não havendo troca de energia entre as pessoas, mas sim uma energia individual circundando um ritmo, um tempo, um espaço). O DJ é peça fundamental neste processo. Mas daí colocá-lo na mesma posição que a de uma banda de rock tocando num palco para uma platéia ensandecida é um pouco demais - e incoerente. São situações como estas em que ocorre um paradoxo, onde tais universos, que sempre estão se cruzando, acabam separando-se em suas distinções mais evidentes.

Tal discussão - rock vs música eletrônica, analisada superficialmente, já vem sendo travada há tempos. Mas é fato de que a tal e-music não se trata simplesmente de uma peça rítmica produzida por não-músicos. Um dos filósofos mais importantes da dita "Era da Informação", o francês Pierre Lévy, dedicou um capítulo inteiro de sua obra definitiva "Cibercultura" ao que ele denominou de "música techno". Ali foi ressaltada a extrema importância da música produzida por DJs como um elemento fundamental para a propagação de culturas através da simbiose de ritmos e referências, das quais estas isoladamente talvez nunca despertassem o interesse de alguém que estivesse habituado a apenas poucos estilos musicais ao seu alcance de forma convencional (e passiva, diga-se). Mas insisto em, mesmo sendo DJ, separar estes dois universos - rock e eletrônica - no que diz respeito à apresentação "ao vivo".

O DJ rege uma massa coletiva em prol da dança - conceito básico e definitivo, certo? Como agente causador de emoções positvas diante de tal coletivo de indivíduos, ele assume o papel de centro das atenções, certo? Portanto, ter uma performance cênica marcante também faz parte do processo, certo? E na hora de pagar 80 paus para ver um DJ famoso rodar discos com música alheia num clube específico é caro mas justo, certo? Pois bem. Neste ponto em que o DJ sai da cabine e vai para um palco dividir atenções e importância com bandas com músicos tocando seus instrumentos é que a porca torce o rabo. Tire todos os aparatos de iluminação e video-animação do show dos Chemical Brothers em um estádio e veja se o resultado permaneceria o mesmo. Não estou desmerecendo uma das maiores bandas da música eletrônicas de todos os tempos. Mas é para os clubes - ou para as raves, é que a dance music foi feita. Quando ela se torna mainstream, tem que utilizar-se de métodos de adaptação que a aproxime de um artista de rock/pop, pois uma cara sozinho trocando vinis num par de toca-discos não seguraria a onda perante um público que pagou para assistir a apresentações com músicos.

Eu sei que esta questão é polêmica e rende muito mais do que estas parcas linhas virtuais. Mas assumo esta postura crítica com convicção, justamente por estar inserido neste universo, pois seria óbvio demais criticar negativamente algo que você não vive diretamente. Como DJ e amante inveterado da música eletrônica que sou desde criança (lembrem-se que havia tecno-pop nos anos 80...), não vejo sentido em gastar grana num DVD para ver um cara tocando música dos outros! É o mesmo caso do vídeo do Fat Boy Slim: prefiro ver o cara tocando na pista onde eu esteja, pois curto pra cacete dançar um set de um DJ de qualidade. Mas ver um vídeo do mesmo tocando para outras pessoas me soa totalmente sem sentido. A dance music proporciona sensações efêmeras e momentâneas numa pista. É melhor estar lá e lembrar depois. Ver um vídeo disso, só sendo DJ mesmo!

*Eu assisti aos três DVDs citados na Fnac Paulista, gratuitamente, numa TV de plasma de 54', som de home theater e sentado num sofá muito confortável. E não comprei os DVDs...

quarta-feira, setembro 22, 2004

Instituto - Itaú Cultural (SP), 21/09/04


*Fotos by Fábio Kalunga

Imagine um cruzamento musical que reúna o jazz/rap classudo e dançante do US3, a batida samba-rock do Trio Mocotó, a malandragem soul/funk no melhor estilo Black Rio, e vocalizações oscilando entre o ragga, o rap e o reggae. Bote aí uma dose de Planet Hemp das antigas, uns drum'n'bass dos novos, hip-hop eletrônico de vanguarda (The Streets, Neptunes, etc.), junte tudo num caldeirão sonoro electro-orgânico, e aí podemos apresentar a vocês o som do Instituto. Eles se auto-denominam como MIB - Música Internacional Brasileira, e o rótulo é perfeito! Soma-se a isso tudo um caráter itinerante de vários integrantes participando de tudo ao mesmo tempo agora. O Instituto é massa!

Parido originalmente dos neurônios alucinados e cabeça-aberta dos músicos/produtores paulistanos Rica Amabis, Tejo Damasceno e Ganja Man, o Instituto funciona como uma confraria do bom gosto musical e de uma onipresente orgia dançante e ao mesmo tempo engajada. Não à toa que o disco lançado pelo selo deles se chame "Coletânea Nacional", onde integrantes de mais de dez bandas diferentes de todo o Brasil (Nação Zumbi, Rapin' Hood, Cidadão Instigado, BNegão, Z'África Brasil, entre muitos outros) participam do negócio. E o público, que lotou o auditório do Itaú Cultural nesta noite abafada e poluída de terça-feira (21/09), dançou e cantou junto as palavras de ordem despejadas pelos vocalistas/rappers Funk Búia e Kamau. Eles pediram para a galera levantar-se das cadeiras, a organização travou...e os caras pediram de novo...e não teve jeito! O baile comeu solto!

O Instituto, na versão encarnada nesta terça, era composto por uma bandaça que incluía, alem dos já citados, dois percussionistas pra lá de animados (e competentes), e sonoridades incríveis produzidas em rodízio pelos participantes/integrantes, que se revezavam em vários intrumentos como baixo, guitarra, flauta, pandeiro, bateria e um belíssimno piano elétrico Rhodes (que timbre era aquele???). É bom salientar que a performance dos caras é animada, divertida, sacana, provocadora, sem aquela sisudez característica dos rappers paulistanos. Rio de Janeiro, São Paulo, Pernambuco, Bahia, Londres, Nova Yorque e Berlim se encontram neste Instituto. Os gringos já estão ligados (o hypado DJ/produtor Kid Koala, dos Gorillas, participou do disco dos caras; e a versão 2004 do festival Sónar, em Barcelona, contou com sua presença)! Portanto, não perca tempo. Se eles passarem pela sua frente, faça parte do Instituto, pois a platéia é participante ativa deste processo. E que a Música Internacional Brasileira invada o mundo, a casa da Mãe Joana, a pista do seu clube preferido, a padaria da esquina. Eles falam todas as línguas. O Instituto é massa, mesmo!!!
+ fotos:



quarta-feira, setembro 15, 2004

Entrevista: Rodrigo Lima, vocalista do Dead Fish


O Entrevistado, o Entrevistador...e o Xico!
*Fotos by Fábio Kalunga

O Dead Fish está nas cabeças! Segundo fontes conspiratórias, o grupo fundado por Rodrigo Lima (vocalista) e (baterista) há 14 anos atrás, em Vitória (ES), está no segundo lugar do Disk MTV, disputando espaço com gente como Broz e Britney Spears. O que isso significa? Para seus detratores de sempre, é o fim da picada. Mas, para quem acompanha a trajetória da banda desde os tempos em que cantavam e inglês e ainda se chamavam Stage Dive - como este que vos escreve, trata-se de uma justiça que demorou para se concretizar.

De radicais de fanzine (o termo é de Mozine, do Mukeka di Rato) a banda com contrato com gravadora de porte nacional, o Dead Fish pavimentou de todas as formas possíveis o caminho de quem se propõe a viver tocando hardcore para o dito público underground. Com toda a bagagem de fatos positivos e negativos a quem tem direito, o vocalista Rodrigo Lima demonstra amadurecimento ao mesmo tempo em que não se leva muito a sério no alto de seus mais de 30 anos de vida. Por isso mesmo que esta entrevista pode ser levada a sério ou não – depende de sua perspicácia de entender o tom das palavras aqui impressas virtualmente. Contrato com gravadora, boatos e venenos escorridos ao longo dos tempos, Los Hermanos, CPM22, MTV... eis o “mundo do Dead Fish” nas palavras de seu vocalista:
*Esta entrevista seria como uma “continuação” de outra que realizei em 2002 e que pode ser acessada através deste link.


Digital Nonsense: É verdade que o Dead Fish ficou rico após assinar com uma gravadora, indo morar em apart hotel e o escambau? Explique-se!

Rodrigo Lima: Cara, agora somos caixa alta, e nossos vizinhos são a Pitty, o Tiririca e uns caras engraçados aqui de rádio... tá frenético! Se bem que agora nos mudamos e foi cada pra um lugar, mas nunca abandonando o hype não, meu brother! Estamos agora nos engajando em achar uma vizinhança mais in, uns caras mais vanguarda e tal, tipo os do Zé Maria.

DN: Aliás, mostre aos mortais como é o “mundo maravilhoso dentro de uma gravadora”.

RL: Meu, até agora vi pouca coisa, temos um bom acesso com o dono (da gravadora) que é o Augusto, e isso deve ser diferente em outras gravadoras, pelo que me disseram. Estas majors aí têm um cara te gerenciando e tal, você não fala direto com o dono da bagaça. Não sei... eu estou gostando até agora do que tem rolado.

O diferencial até agora foi mesmo a gravação, que ficamos 40 dias direto no estúdio. Pudemos rever um monte de coisas das músicas, teve um cara de peso masterizando que foi o Ryan Greene e tal, isso foi bom pra caralho.

DN: De certa forma, o contrato com a Deck Discos fez ampliar os horizontes para a banda, como contato para shows e convites para programas de TV, rádios, etc.?

RL: Sim, sim, isso mudou também. Agora falamos para um público que não é aquele que acompanhava os zines e os sites especializados em punk rock e hardcore... Então é meio um choque em alguns aspectos, algumas ironias não funcionam muito bem, nem algumas piadinhas, mas tem sido outro horizonte. Como disse, estou aprendendo com o dia-dia, como é o cacoete da coisa toda, mas não sei se quero ficar viciado neste lance "falar pra rádios maiores e TVs abertas”.

Quanto aos shows a coisa mudou pouco, até por vontade nossa também. Eu sinto a necessidade de tocar em lugares menores, com produtores menores, sempre vivi isso e sempre me deu prazer. Talvez a coisa mude até o fim do ano, mas sempre vamos estar fazendo shows com velhos conhecidos ai pelo Brasil afora.

DN: Como vocês encaram a indicação como "revelação" no VMB 2004, sendo que a banda está a mais de uma década na estrada, com vários discos no currículo? Isso não é jabá da gravadora?

RL: Hahahahaha!! Outro dia falamos numa rádio - acho que foi a Brasil 2000 FM, no programa do Kid Vinil, e este assunto surgiu do nada, daí demos umas risadas, porque após quase 14 anos - cara isso é muito tempo! - e estamos sendo indicados um prêmio de “revelação”... É extremamente irônico. Daí o (baterista do Dead Fish e um dos fundadores originais da banda) saiu com esta: “Pois é, vamos ser revelados quase 14 anos depois... Acho que a foto vai sair em preto-e-branco!”, e depois mandou outra: "mesmo assim vote na gente, se não o Broz’ ganha!”. Hahahahaha! A risada foi geral... Acho que é bem isso mesmo que sentimos, não estamos preocupados, vai ter festinha depois, vamos tomar umas de graça e é isso aí!

Jabá? Isso eu não sei, porque a gravadora e a MTV têm lá seus contatos entre eles e nem ficamos sabendo muito... Mas, como vai sair o DVD logo depois do prêmio, não sei, pode ser que role...

DN: O disco novo tem uma sonoridade muito mais carregada nas guitarras do que antes. Até que ponto os novos integrantes – além de você e do Nô – modificaram a estrutura “tradicional” do som do Dead Fish?

RL: Os cinco CDs são diferentes, cara. O “Sirva-se” é bem diferente do “Sonho Médio”, que não tem muito a ver com o “Afasia”, que não tem a ver com o “Zero e Um”... Eu acho que somos uma banda que vive seus momentos meio que se preocupando mais no que sai no momento do que os outros esperam e tal... Quando chamamos o Phil e o Hóspede pra tocar, não sabíamos muito o que ía sair. Saiu isso aí, e acho este CD foda -humildemente falando, é claro.

Foi também uma nova experiência, com outro produtor que não o “Cabelo de Crente” (Índio - N. do E.: produtor musical do ES que produziu discos anteriores do DF), outro estúdio, outro tempo, outra banda. Na real, se você for ver né? Daí saiu isso aí...

DN: Seria insensato afirmar que o contrato com a Deck salvou o DF de seu fim?

RL: Não, o contrato fez a banda voltar, eu já tava indo embora, ia ficar um tempo fora do país, em qualquer porra de lugar, e acho que depois ia voltar a estudar... Mas aí veio o péla-saco do Rafa (Rafael Ramos, produtor musical e filho do dono da Deck Discos) e fez a porra do convite. Aí fodeu tudo!

DN: Desde o começo da banda, quando vocês ainda se chamavam Stage Dive e cantavam em inglês, que o DF sempre teve uma legião de péla-sacos pegando no pé de vocês, cuspindo conceitos de “underground” e coisas do tipo. Como vocês lidam com isso hoje?

RL: Isso existe até hoje e sempre vai existir. Hoje temos isso como uma normalidade, se não rolar não é o DF fazendo e falando. Mas acho que tem outra também. Sempre nos permitimos não sermos tão “retos” em conceitos. Acho que o mais radical da banda sou eu, e no fim aprendi a respeitar diferenças de idéias. Acho que a péla-saquice da capixabada nos deu uma base boa pra enfrentar a do alheio, que é mais light e menos pessoal.

DN: Participar do disco do CPM22 não seria dar munição de sobra para estes péla-sacos?

RL: Sim, e daí? Eu faço o que eu quero e não o que todo mundo quer. Eu tenho repetido isso e nego tá ficando bolado. Mas eu gosto do CPM22 independente do caminho que tenham seguido. Eu gosto das pessoas que estão ali por trás trampando com os caras. Gosto dos caras da banda e não separo muito isso... Me lembro que fiquei muito feliz quando gravei a música “Atordoado”, muito mesmo... Mas fiquei meio bolado quando fiquei sabendo do lance que passava na novela (”Da Cor do Pecado”, na Globo), hahahahahaha!!! Aposto que nem você nem sabia que eu já cantei em novela, hahahahahahaha!!!

DN: Eu tive o desprazer de ouvir tua voz na novela das sete sim...Admito que vejo novela, pô! A propósito, mais de dez nos vivendo do tal do “underground” deve lhes mostrado várias lições, não? Poderia apontar algumas mais relevantes?

RL: Tá bom Kalunga, vamos dar uma liçãozinha de moral aqui, separando por tópicos!
1-Acredite sempre mais em você do que na opinião dos outros, elogios ou críticas;
2-Faça a coisa não como um “trabalho”, mas como diversão (o trabalho é uma farsa? Então, divirta-se!);
3-Viva o momento! Esperar pra estourar te torna um bolha de merda! (entenderam? bolha??!! Estourar??!!);
4-Lembre-se, você pode pedir um som melhor pro cara que tá fazendo o show. Isso ajuda a aprimorar.
5-Jornalistas entendidos, hardcoreanos e engajados não entendem porra nenhuma! Só estão ali pra torrar o saco porque não conseguem fazer uma boa que valha a merda de seus conceitos importados de Glasgow, Londres ou Nova Iorque!;
6-Nunca, nunca se leve muito a sério! Você pode virar um bolha de merda às avessas. (Entenderam? Não??? Leia de novo!);
7-Se você é capixaba, fuja daí! Eles querem te matar!
8-Lembra quando você tinha ou tem 17 anos? Então, nunca deixe de achar que você pode mudar a merda toda do mundo - mas seja menos péla-saco;
9-Faça música que te faça suar e gritar como um insano, mesmo que seja por dentro;
10-Sofrimento e dias chuvosos fazem parte do processo;
11-Faça você mesmo! Do teu jeito! (Esta foi engajadíssima, hehehehehe!);
12-Seja bonito e inteligente como eu, que ajuda. (E isso é sério!);

DN: E o lance dos Los Hermanos quererem ter participado do disco “Zero e Um” (e terem sido rejeitados pelo DF...), foi lenda ou rolou mesmo?

RL: Cara, é tudo verdade velho, mesmo!!! Eu até diria mais: eles ficaram nos ligando todos os dias pra pegar uns toques de como fazer boas letras e melodias... Mas eles ainda chegam lá, hehehehehe...

DN: E a tal da música capixaba? Sem diplomacias, o que você apontaria de bom e de péssimo musicalmente na sua terra natal?

RL: Tem muita coisa ruim rolando no ES, decididamente sim e não só na música. Até achei bom aquele começo do boom do reggae - é assim que se escreve??? (N. do E.: acertou, regueiro!), mas depois foi ficando panelinha, provinciano, e me deu um pouco no saco, mas eu fico na minha. Daí veio aquela matéria da (revista underground capixaba) Quase, que foi engraçada, e meio que deu voz a quem achava tudo aquilo over demais... Mas eu acho que o grande problema é mesmo a minoria dona do Estado, são muitos anos de dominação de corações e mentes, e isso é complicado porque tem muita gente querendo fazer diferente pra que a coisa fique mais democrática, mas não rola! Às vezes até estas próprias pessoas que querem fazer diferente esbarram no capixabismo escroto dentro de suas casas, dentro de suas bandas e até na Universidade... É complicado... Até quando nêgo vai agüentar banda chapa-branca tipo Manimal e tal?? Os guris do HC, onde sempre estive um pouco mais envolvido, sempre quiseram fazer diferente, mas acabam esbarrando na sua própria herança provinciano-mafiosa-capixaba – nossa, essa foi bonita, hahahahahaha!!! - e acabam não conseguindo fazer muita coisa.

Apesar de muitas bandas legais terem surgido nos últimos 10 anos, nêgo aí cai no lance do siri na lata e aquele blá blá bla que você já conhece. Mas a coisa pode mudar, ainda acredito nisso, não sei como, mas acredito!

DN: Quais os sons que você ouve desde sempre? E o que anda fazendo a tua cabeça atualmente?

RL: Desde sempre: Bad Religion, Bad Brains, 7seconds, Fugazi, Social Distortion, Ratos de Porão, Mukeka di Rato... E tenho ouvido umas coisas diferentes daqui que meus amigos engajados que moram numa casa perto da minha aqui no Centro: The X, God Speed Your Black Emperor (eu achava isso chato, agora gosto), Liars, Boy Sets Fire, Bob Dylan, Hot Water Music, lances de eletrônico que pego de referência com o Marcel (do Zémaria), principalmente depois que você me deu aquela merda de CD de trance que eu passei a ouvir de vez em quando... E Jamelão, Tim Maia, 5º Andar e uns proibidões afins e divertidíssimos.

DN: E como anda a vida em Sampa?

RL: Tenho sentido necessidade de ser menos vagabundo velho. Eu fico de segunda a quarta coçando o saco, leio pra caralho e talvez por isso tenho sentido falta de fazer uma grana. Aqui em SP tudo é muito caro e fazer um extra é legal... Bom, a Rua Augusta ta aí pra isso, não??? Hahahahahahaha!!!

DN: Como fica o selo de vocês (Terceiro Mundo) após o contrato com a Deck?

RL: Por enquanto, parado. Mas quem poderia te responder isso direito é o Aly ou o Nô. Mas o que posso te adiantar é que o selo não acabou. Eu tenho pretensão de fazer outro selo no futuro, mas isso vai como vou estar vivendo daqui um ano, e isso tá longe...

DN: Para finalizar, quando é que você vai raspar esta barba horrível???

RL: Olha aqui meu cumpadi, eu nunca falei nada daquela sua cabeleira que parecia a de uma jovem pentecostal (N. do E.: eu era cabeludo...)! Quando você tirou eu pensei comigo: "finalmente o cara se mancou!”, mas eu nunca te disse nada diretamente. Então, por favor, seja ético, no mínimo um capixaba, e “ria pela frente e faça careta por trás”! Me deixa com a minha barba, porra!!!
Valeu!

quinta-feira, setembro 02, 2004

Atualizações!

Em breve este blogg será atualizado com novas notícias/matéria, reportagens, fotos-e-o-escambau.
Apesar de poucos comentários virtuais, tem um monte de gente me cobrando pessoalmente para que eu o atualize. Estive muito ocupando com alguns trampos, mas até o final desta semana tem coisa nova. Agradeço a presença e a força dos que passam por aqui. Valeu!

domingo, julho 04, 2004

The Young Gods & Jeremy Narby - Fórum Cultural Mundial, Sesc Paulista - 03/07/04


Bernard Trotin e Franz Treichler, dos Young Gods
Fotos by Fabio Kalunga

Se a entrada custasse dez reais ninguém acreditaria. Mas como era de graça e fazia parte da programação musical do Fórum Cultural Mundial, o negócio era sério mesmo: os Young Gods tocariam gratuitamente no Sesc da Avenida Paulista, nos dias 3 e 4 de julho. Pela fila que se formou no sábado (03/07), provavelmente todos os fãs que possuem algum disco dos suíços estavam presentes, visto que o grupo só teve um álbum lançado no Brasil e isso foi há 15 anos! Mas quem procurou se informar melhor já foi sabendo de que não se tratava de uma apresentação dos YG propriamente dita, mas sim uma mistura de palestra com as sonoridades de seu projeto mais recente, "Amazonia Ambient Project", junto com o antropólogo suíço Jeremy Narby. O que forma alguma tirou o valor do ocorrido. Quem esteve por lá aplaudiu de pé e ainda recebeu uma boa dose de conteúdo científico-antroplógico.

Antes de falar do show, é preciso traçar um resumo do que os Young Gods representam. Formada em 1982 pelo vocalista e multi-instrumentista Franz Treichler, atualmente contando com Alain Monod (na banda desde 1987) e o baterista Bernard Trotin (desde 1997), a banda marcou história ao lançar seu primeiro álbum auto-intitulado que, em 1985, quebrou barreiras ao incorporar guitarras tratadas eletronicamente via sampler (e com timbres e ressonâncias impossíveis de serem reproduzidas por um ser humano) a uma música industrial de vanguarda que também incluía elementos folclóricos europeus - vale lembrar que eles cantavam em francês. Foi com o disco seguinte, "L'eau Rouge" (1989), que os tornou famosos mundialmente por promover uma sonoridade corrosiva, onde riffs de guitarra heavy-metal arrasadores se fundiam com a proposta do disco anterior. "TV Sky" marcou a mudança de idioma para o inglês (ainda que o francês sempre apareça) e também para uma sonoridade muito mais rock and roll, com influências nítidas de The Doors, Stooges e Pink Floyd. Foram fundo na psicodelia eletrônica movida às guitarras características em "Only Heaven", lançaram uma versão deste álbum, "Heaven Deconstruction", onde a piração eletrônica foi além dos limites musicais convencionais, e ampliaram a melodia ao mesmo tempo em que subverteram as guitarras ao ponto de soarem irreconhecíveis no seu último trabalho, "Second Nature". Tudo isso prova que os YG produzem uma sonoridade única, não dando a mínima para o que os hypes sucessivos ditam o que se deve fazer. Mas não se trata de uma banda difícil, pois as belíssimas melodias cantadas por Franz Treichler são a prova cabal de que para ser genial não é preciso ser incompreensível.

Voltando ao show do Sesc, a apresentação focou-se nas palavras o antropólogo Jeremy Narby, que fomentou sua tese de doutorado na Amazônia, traçando um paralelo com o que a ciência atual está concluindo somente agora e com o que os índios já sabiam há tempos por meio de rituais xamânticos. Com uma interpretação entre o robótico e o irônico, Jeremy arriscou um português cheio de sotaque (mas muito bem conjugado!) em cima de sons ambient que Franz Treichler e Bernard Trotin criavam ao vivo, juntando bases pré-gravadas, sintetizadores com sons alienígenas, percussões e distorções de efeitos em cima do que era tocado ali, na hora. Em certos momentos as palavras do antropólogo penetravam no cérebro junto aos ruídos sintetizados dos YG, criando um efeito hipnótico onde o conteúdo recitado era assimilado como se fosse por osmose! Papo de doido?? Aconselho a passarem por esta experiência e tirarem suas próprias conclusões!

Num bate-papo informal com o vocalista Franz Treichler, que estava de bobeira na frente do palco antes do show, ele afirmou que o próximo disco dos YG, que será lançado no começo do ano que vem, será uma mistura de "TV Sky" com o "Second Nature". "As guitarras vão voltar, mas as melodias estarão ainda mais fortes", afirmou Franz, num excelente português - seu pai, acreditem, é do interior de São Paulo, daí a ótima dicção em nossa língua. Ele ainda prometeu que a banda virá ano que vem ao Brasil para uma apresentação "de verdade". Tão acessíveis quanto simpáticos, os membros da banda distribuíram autógrafos para os fãs presentes (eu incluso!) e ainda por cima chamaram a todos para tomarem uma cerveja com eles num bar próximo. Visualmente eles se parecem com aqueles gringos que você encontra meio que perdidos e deslumbrados em lugares tipo Trancoso ou Ilha Grande. Como Jovens Deuses que são, os caras se mostraram bem humanos!
fotos:

Da esq. p/ dir: Franz Treichler, eu (de vermelho), dois fãs gente finíssima que conheci ali na hora, Alain Monod, Jeremy Narby e Bernard Trotin