domingo, julho 04, 2004

The Young Gods & Jeremy Narby - Fórum Cultural Mundial, Sesc Paulista - 03/07/04


Bernard Trotin e Franz Treichler, dos Young Gods
Fotos by Fabio Kalunga

Se a entrada custasse dez reais ninguém acreditaria. Mas como era de graça e fazia parte da programação musical do Fórum Cultural Mundial, o negócio era sério mesmo: os Young Gods tocariam gratuitamente no Sesc da Avenida Paulista, nos dias 3 e 4 de julho. Pela fila que se formou no sábado (03/07), provavelmente todos os fãs que possuem algum disco dos suíços estavam presentes, visto que o grupo só teve um álbum lançado no Brasil e isso foi há 15 anos! Mas quem procurou se informar melhor já foi sabendo de que não se tratava de uma apresentação dos YG propriamente dita, mas sim uma mistura de palestra com as sonoridades de seu projeto mais recente, "Amazonia Ambient Project", junto com o antropólogo suíço Jeremy Narby. O que forma alguma tirou o valor do ocorrido. Quem esteve por lá aplaudiu de pé e ainda recebeu uma boa dose de conteúdo científico-antroplógico.

Antes de falar do show, é preciso traçar um resumo do que os Young Gods representam. Formada em 1982 pelo vocalista e multi-instrumentista Franz Treichler, atualmente contando com Alain Monod (na banda desde 1987) e o baterista Bernard Trotin (desde 1997), a banda marcou história ao lançar seu primeiro álbum auto-intitulado que, em 1985, quebrou barreiras ao incorporar guitarras tratadas eletronicamente via sampler (e com timbres e ressonâncias impossíveis de serem reproduzidas por um ser humano) a uma música industrial de vanguarda que também incluía elementos folclóricos europeus - vale lembrar que eles cantavam em francês. Foi com o disco seguinte, "L'eau Rouge" (1989), que os tornou famosos mundialmente por promover uma sonoridade corrosiva, onde riffs de guitarra heavy-metal arrasadores se fundiam com a proposta do disco anterior. "TV Sky" marcou a mudança de idioma para o inglês (ainda que o francês sempre apareça) e também para uma sonoridade muito mais rock and roll, com influências nítidas de The Doors, Stooges e Pink Floyd. Foram fundo na psicodelia eletrônica movida às guitarras características em "Only Heaven", lançaram uma versão deste álbum, "Heaven Deconstruction", onde a piração eletrônica foi além dos limites musicais convencionais, e ampliaram a melodia ao mesmo tempo em que subverteram as guitarras ao ponto de soarem irreconhecíveis no seu último trabalho, "Second Nature". Tudo isso prova que os YG produzem uma sonoridade única, não dando a mínima para o que os hypes sucessivos ditam o que se deve fazer. Mas não se trata de uma banda difícil, pois as belíssimas melodias cantadas por Franz Treichler são a prova cabal de que para ser genial não é preciso ser incompreensível.

Voltando ao show do Sesc, a apresentação focou-se nas palavras o antropólogo Jeremy Narby, que fomentou sua tese de doutorado na Amazônia, traçando um paralelo com o que a ciência atual está concluindo somente agora e com o que os índios já sabiam há tempos por meio de rituais xamânticos. Com uma interpretação entre o robótico e o irônico, Jeremy arriscou um português cheio de sotaque (mas muito bem conjugado!) em cima de sons ambient que Franz Treichler e Bernard Trotin criavam ao vivo, juntando bases pré-gravadas, sintetizadores com sons alienígenas, percussões e distorções de efeitos em cima do que era tocado ali, na hora. Em certos momentos as palavras do antropólogo penetravam no cérebro junto aos ruídos sintetizados dos YG, criando um efeito hipnótico onde o conteúdo recitado era assimilado como se fosse por osmose! Papo de doido?? Aconselho a passarem por esta experiência e tirarem suas próprias conclusões!

Num bate-papo informal com o vocalista Franz Treichler, que estava de bobeira na frente do palco antes do show, ele afirmou que o próximo disco dos YG, que será lançado no começo do ano que vem, será uma mistura de "TV Sky" com o "Second Nature". "As guitarras vão voltar, mas as melodias estarão ainda mais fortes", afirmou Franz, num excelente português - seu pai, acreditem, é do interior de São Paulo, daí a ótima dicção em nossa língua. Ele ainda prometeu que a banda virá ano que vem ao Brasil para uma apresentação "de verdade". Tão acessíveis quanto simpáticos, os membros da banda distribuíram autógrafos para os fãs presentes (eu incluso!) e ainda por cima chamaram a todos para tomarem uma cerveja com eles num bar próximo. Visualmente eles se parecem com aqueles gringos que você encontra meio que perdidos e deslumbrados em lugares tipo Trancoso ou Ilha Grande. Como Jovens Deuses que são, os caras se mostraram bem humanos!
fotos:

Da esq. p/ dir: Franz Treichler, eu (de vermelho), dois fãs gente finíssima que conheci ali na hora, Alain Monod, Jeremy Narby e Bernard Trotin


7 Comments:

Blogger caio said...

FICO FELIZ POR OBSERVAR QUE AS COISAS ESTÃO ACONTECENDO! MANDANDO BALA NAS PISTAS, FOTOGRAFANDO A BAGAÇA E AINDA ROQUEANDO COM MÚSICOS QUE ADMIRA! FODA!

OBS: O MUTIRÃO ESTÁ EM MOVIMENTO!

4 de julho de 2004 às 17:52  
Anonymous Anônimo said...

Kalunga, Que texto lindo é esse?
Puta que pariu, que saudade, queria muito fazer uma "balada" contigo, em qualquer canto, SP ou ES, essa "vibe" é transmitida até pela internet.

PS. E o Fun House, o Marcel disse que foi perfeito, seu set foi PHoda...isso eu já sabia...

Rike

5 de julho de 2004 às 04:30  
Blogger val bonna 665 >> 667 said...

que foda kalunga!! deve ter sido gratificante tomar umazinha com os caras!! parecem ser gente fina mesmo!

essa dos pais do cara serem paulistas me fez cair o queixo!!

e é certo, nesse show "de verdade", eu marco ponto aí!! como diz o maércio, pode por mais feijão na panela!

5 de julho de 2004 às 09:01  
Blogger val bonna 665 >> 667 said...

que foda kalunga!! deve ter sido gratificante tomar umazinha com os caras!! parecem ser gente fina mesmo!

essa dos pais do cara serem paulistas me fez cair o queixo!!

e é certo, nesse show "de verdade", eu marco ponto aí!! como diz o maércio, pode por mais feijão na panela!

5 de julho de 2004 às 09:03  
Blogger Kalunga said...

Rike: cara, baixe aqui quando puder, pois agora o bicho vai pegar!! Ainda estou num perrengue fodido, mas estou conhecendo uma galera maneira por aqui. No YG, por exemplo, rolou aquela aproximação entre os que curtem sons parecidos, e EBM e industrial é pra poucos aqui no Brasil, sendo que a maioria reside em Sampa. Amanhã eu vou na casa eu um brother gente-fina, o Erik, que está agitando um tributo ao Einsturzende Neubaten e acho que vai rolar de produzirmos algo juntos!

Bonna: a parada foi louca! E eu esqueci de comentar que eu fui no dia anterior ver o Franz Treichler solo com o video-maker brasileiro Raimo Benedetti. O cara mandou músicas do "Heaven Deconsrruction" e uma vesão trance de "Lucidogen" alucinante! Não preciso nem dizer que eu acabei repetindo a dose no domingo também!

5 de julho de 2004 às 13:50  
Blogger Kalunga said...

Lacaio, imagine que eu curto a banda há 15 anos, nunca deixei de acompanhar seus lançamentos, ela está entre as 5 que eu mais gosto em todos os tempos, e o vocal (que Mike Patton já declarou ser uma de seus preferidos de sempre) da banda trocou idéia comigo em português, autografou todos os CDs (fez até desenhos neles) e ainda convidou a galera para tomar uma gelada!!! Caralho!!!

5 de julho de 2004 às 13:54  
Blogger Kalunga said...

Qualé Turco!!! O blogg tá meio desatualizado, mas semana que vem já pinta novidade por aqui!!!

Valeu!

23 de julho de 2004 às 10:53  

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