quarta-feira, setembro 22, 2004

Instituto - Itaú Cultural (SP), 21/09/04


*Fotos by Fábio Kalunga

Imagine um cruzamento musical que reúna o jazz/rap classudo e dançante do US3, a batida samba-rock do Trio Mocotó, a malandragem soul/funk no melhor estilo Black Rio, e vocalizações oscilando entre o ragga, o rap e o reggae. Bote aí uma dose de Planet Hemp das antigas, uns drum'n'bass dos novos, hip-hop eletrônico de vanguarda (The Streets, Neptunes, etc.), junte tudo num caldeirão sonoro electro-orgânico, e aí podemos apresentar a vocês o som do Instituto. Eles se auto-denominam como MIB - Música Internacional Brasileira, e o rótulo é perfeito! Soma-se a isso tudo um caráter itinerante de vários integrantes participando de tudo ao mesmo tempo agora. O Instituto é massa!

Parido originalmente dos neurônios alucinados e cabeça-aberta dos músicos/produtores paulistanos Rica Amabis, Tejo Damasceno e Ganja Man, o Instituto funciona como uma confraria do bom gosto musical e de uma onipresente orgia dançante e ao mesmo tempo engajada. Não à toa que o disco lançado pelo selo deles se chame "Coletânea Nacional", onde integrantes de mais de dez bandas diferentes de todo o Brasil (Nação Zumbi, Rapin' Hood, Cidadão Instigado, BNegão, Z'África Brasil, entre muitos outros) participam do negócio. E o público, que lotou o auditório do Itaú Cultural nesta noite abafada e poluída de terça-feira (21/09), dançou e cantou junto as palavras de ordem despejadas pelos vocalistas/rappers Funk Búia e Kamau. Eles pediram para a galera levantar-se das cadeiras, a organização travou...e os caras pediram de novo...e não teve jeito! O baile comeu solto!

O Instituto, na versão encarnada nesta terça, era composto por uma bandaça que incluía, alem dos já citados, dois percussionistas pra lá de animados (e competentes), e sonoridades incríveis produzidas em rodízio pelos participantes/integrantes, que se revezavam em vários intrumentos como baixo, guitarra, flauta, pandeiro, bateria e um belíssimno piano elétrico Rhodes (que timbre era aquele???). É bom salientar que a performance dos caras é animada, divertida, sacana, provocadora, sem aquela sisudez característica dos rappers paulistanos. Rio de Janeiro, São Paulo, Pernambuco, Bahia, Londres, Nova Yorque e Berlim se encontram neste Instituto. Os gringos já estão ligados (o hypado DJ/produtor Kid Koala, dos Gorillas, participou do disco dos caras; e a versão 2004 do festival Sónar, em Barcelona, contou com sua presença)! Portanto, não perca tempo. Se eles passarem pela sua frente, faça parte do Instituto, pois a platéia é participante ativa deste processo. E que a Música Internacional Brasileira invada o mundo, a casa da Mãe Joana, a pista do seu clube preferido, a padaria da esquina. Eles falam todas as línguas. O Instituto é massa, mesmo!!!
+ fotos:



quarta-feira, setembro 15, 2004

Entrevista: Rodrigo Lima, vocalista do Dead Fish


O Entrevistado, o Entrevistador...e o Xico!
*Fotos by Fábio Kalunga

O Dead Fish está nas cabeças! Segundo fontes conspiratórias, o grupo fundado por Rodrigo Lima (vocalista) e (baterista) há 14 anos atrás, em Vitória (ES), está no segundo lugar do Disk MTV, disputando espaço com gente como Broz e Britney Spears. O que isso significa? Para seus detratores de sempre, é o fim da picada. Mas, para quem acompanha a trajetória da banda desde os tempos em que cantavam e inglês e ainda se chamavam Stage Dive - como este que vos escreve, trata-se de uma justiça que demorou para se concretizar.

De radicais de fanzine (o termo é de Mozine, do Mukeka di Rato) a banda com contrato com gravadora de porte nacional, o Dead Fish pavimentou de todas as formas possíveis o caminho de quem se propõe a viver tocando hardcore para o dito público underground. Com toda a bagagem de fatos positivos e negativos a quem tem direito, o vocalista Rodrigo Lima demonstra amadurecimento ao mesmo tempo em que não se leva muito a sério no alto de seus mais de 30 anos de vida. Por isso mesmo que esta entrevista pode ser levada a sério ou não – depende de sua perspicácia de entender o tom das palavras aqui impressas virtualmente. Contrato com gravadora, boatos e venenos escorridos ao longo dos tempos, Los Hermanos, CPM22, MTV... eis o “mundo do Dead Fish” nas palavras de seu vocalista:
*Esta entrevista seria como uma “continuação” de outra que realizei em 2002 e que pode ser acessada através deste link.


Digital Nonsense: É verdade que o Dead Fish ficou rico após assinar com uma gravadora, indo morar em apart hotel e o escambau? Explique-se!

Rodrigo Lima: Cara, agora somos caixa alta, e nossos vizinhos são a Pitty, o Tiririca e uns caras engraçados aqui de rádio... tá frenético! Se bem que agora nos mudamos e foi cada pra um lugar, mas nunca abandonando o hype não, meu brother! Estamos agora nos engajando em achar uma vizinhança mais in, uns caras mais vanguarda e tal, tipo os do Zé Maria.

DN: Aliás, mostre aos mortais como é o “mundo maravilhoso dentro de uma gravadora”.

RL: Meu, até agora vi pouca coisa, temos um bom acesso com o dono (da gravadora) que é o Augusto, e isso deve ser diferente em outras gravadoras, pelo que me disseram. Estas majors aí têm um cara te gerenciando e tal, você não fala direto com o dono da bagaça. Não sei... eu estou gostando até agora do que tem rolado.

O diferencial até agora foi mesmo a gravação, que ficamos 40 dias direto no estúdio. Pudemos rever um monte de coisas das músicas, teve um cara de peso masterizando que foi o Ryan Greene e tal, isso foi bom pra caralho.

DN: De certa forma, o contrato com a Deck Discos fez ampliar os horizontes para a banda, como contato para shows e convites para programas de TV, rádios, etc.?

RL: Sim, sim, isso mudou também. Agora falamos para um público que não é aquele que acompanhava os zines e os sites especializados em punk rock e hardcore... Então é meio um choque em alguns aspectos, algumas ironias não funcionam muito bem, nem algumas piadinhas, mas tem sido outro horizonte. Como disse, estou aprendendo com o dia-dia, como é o cacoete da coisa toda, mas não sei se quero ficar viciado neste lance "falar pra rádios maiores e TVs abertas”.

Quanto aos shows a coisa mudou pouco, até por vontade nossa também. Eu sinto a necessidade de tocar em lugares menores, com produtores menores, sempre vivi isso e sempre me deu prazer. Talvez a coisa mude até o fim do ano, mas sempre vamos estar fazendo shows com velhos conhecidos ai pelo Brasil afora.

DN: Como vocês encaram a indicação como "revelação" no VMB 2004, sendo que a banda está a mais de uma década na estrada, com vários discos no currículo? Isso não é jabá da gravadora?

RL: Hahahahaha!! Outro dia falamos numa rádio - acho que foi a Brasil 2000 FM, no programa do Kid Vinil, e este assunto surgiu do nada, daí demos umas risadas, porque após quase 14 anos - cara isso é muito tempo! - e estamos sendo indicados um prêmio de “revelação”... É extremamente irônico. Daí o (baterista do Dead Fish e um dos fundadores originais da banda) saiu com esta: “Pois é, vamos ser revelados quase 14 anos depois... Acho que a foto vai sair em preto-e-branco!”, e depois mandou outra: "mesmo assim vote na gente, se não o Broz’ ganha!”. Hahahahaha! A risada foi geral... Acho que é bem isso mesmo que sentimos, não estamos preocupados, vai ter festinha depois, vamos tomar umas de graça e é isso aí!

Jabá? Isso eu não sei, porque a gravadora e a MTV têm lá seus contatos entre eles e nem ficamos sabendo muito... Mas, como vai sair o DVD logo depois do prêmio, não sei, pode ser que role...

DN: O disco novo tem uma sonoridade muito mais carregada nas guitarras do que antes. Até que ponto os novos integrantes – além de você e do Nô – modificaram a estrutura “tradicional” do som do Dead Fish?

RL: Os cinco CDs são diferentes, cara. O “Sirva-se” é bem diferente do “Sonho Médio”, que não tem muito a ver com o “Afasia”, que não tem a ver com o “Zero e Um”... Eu acho que somos uma banda que vive seus momentos meio que se preocupando mais no que sai no momento do que os outros esperam e tal... Quando chamamos o Phil e o Hóspede pra tocar, não sabíamos muito o que ía sair. Saiu isso aí, e acho este CD foda -humildemente falando, é claro.

Foi também uma nova experiência, com outro produtor que não o “Cabelo de Crente” (Índio - N. do E.: produtor musical do ES que produziu discos anteriores do DF), outro estúdio, outro tempo, outra banda. Na real, se você for ver né? Daí saiu isso aí...

DN: Seria insensato afirmar que o contrato com a Deck salvou o DF de seu fim?

RL: Não, o contrato fez a banda voltar, eu já tava indo embora, ia ficar um tempo fora do país, em qualquer porra de lugar, e acho que depois ia voltar a estudar... Mas aí veio o péla-saco do Rafa (Rafael Ramos, produtor musical e filho do dono da Deck Discos) e fez a porra do convite. Aí fodeu tudo!

DN: Desde o começo da banda, quando vocês ainda se chamavam Stage Dive e cantavam em inglês, que o DF sempre teve uma legião de péla-sacos pegando no pé de vocês, cuspindo conceitos de “underground” e coisas do tipo. Como vocês lidam com isso hoje?

RL: Isso existe até hoje e sempre vai existir. Hoje temos isso como uma normalidade, se não rolar não é o DF fazendo e falando. Mas acho que tem outra também. Sempre nos permitimos não sermos tão “retos” em conceitos. Acho que o mais radical da banda sou eu, e no fim aprendi a respeitar diferenças de idéias. Acho que a péla-saquice da capixabada nos deu uma base boa pra enfrentar a do alheio, que é mais light e menos pessoal.

DN: Participar do disco do CPM22 não seria dar munição de sobra para estes péla-sacos?

RL: Sim, e daí? Eu faço o que eu quero e não o que todo mundo quer. Eu tenho repetido isso e nego tá ficando bolado. Mas eu gosto do CPM22 independente do caminho que tenham seguido. Eu gosto das pessoas que estão ali por trás trampando com os caras. Gosto dos caras da banda e não separo muito isso... Me lembro que fiquei muito feliz quando gravei a música “Atordoado”, muito mesmo... Mas fiquei meio bolado quando fiquei sabendo do lance que passava na novela (”Da Cor do Pecado”, na Globo), hahahahahaha!!! Aposto que nem você nem sabia que eu já cantei em novela, hahahahahahaha!!!

DN: Eu tive o desprazer de ouvir tua voz na novela das sete sim...Admito que vejo novela, pô! A propósito, mais de dez nos vivendo do tal do “underground” deve lhes mostrado várias lições, não? Poderia apontar algumas mais relevantes?

RL: Tá bom Kalunga, vamos dar uma liçãozinha de moral aqui, separando por tópicos!
1-Acredite sempre mais em você do que na opinião dos outros, elogios ou críticas;
2-Faça a coisa não como um “trabalho”, mas como diversão (o trabalho é uma farsa? Então, divirta-se!);
3-Viva o momento! Esperar pra estourar te torna um bolha de merda! (entenderam? bolha??!! Estourar??!!);
4-Lembre-se, você pode pedir um som melhor pro cara que tá fazendo o show. Isso ajuda a aprimorar.
5-Jornalistas entendidos, hardcoreanos e engajados não entendem porra nenhuma! Só estão ali pra torrar o saco porque não conseguem fazer uma boa que valha a merda de seus conceitos importados de Glasgow, Londres ou Nova Iorque!;
6-Nunca, nunca se leve muito a sério! Você pode virar um bolha de merda às avessas. (Entenderam? Não??? Leia de novo!);
7-Se você é capixaba, fuja daí! Eles querem te matar!
8-Lembra quando você tinha ou tem 17 anos? Então, nunca deixe de achar que você pode mudar a merda toda do mundo - mas seja menos péla-saco;
9-Faça música que te faça suar e gritar como um insano, mesmo que seja por dentro;
10-Sofrimento e dias chuvosos fazem parte do processo;
11-Faça você mesmo! Do teu jeito! (Esta foi engajadíssima, hehehehehe!);
12-Seja bonito e inteligente como eu, que ajuda. (E isso é sério!);

DN: E o lance dos Los Hermanos quererem ter participado do disco “Zero e Um” (e terem sido rejeitados pelo DF...), foi lenda ou rolou mesmo?

RL: Cara, é tudo verdade velho, mesmo!!! Eu até diria mais: eles ficaram nos ligando todos os dias pra pegar uns toques de como fazer boas letras e melodias... Mas eles ainda chegam lá, hehehehehe...

DN: E a tal da música capixaba? Sem diplomacias, o que você apontaria de bom e de péssimo musicalmente na sua terra natal?

RL: Tem muita coisa ruim rolando no ES, decididamente sim e não só na música. Até achei bom aquele começo do boom do reggae - é assim que se escreve??? (N. do E.: acertou, regueiro!), mas depois foi ficando panelinha, provinciano, e me deu um pouco no saco, mas eu fico na minha. Daí veio aquela matéria da (revista underground capixaba) Quase, que foi engraçada, e meio que deu voz a quem achava tudo aquilo over demais... Mas eu acho que o grande problema é mesmo a minoria dona do Estado, são muitos anos de dominação de corações e mentes, e isso é complicado porque tem muita gente querendo fazer diferente pra que a coisa fique mais democrática, mas não rola! Às vezes até estas próprias pessoas que querem fazer diferente esbarram no capixabismo escroto dentro de suas casas, dentro de suas bandas e até na Universidade... É complicado... Até quando nêgo vai agüentar banda chapa-branca tipo Manimal e tal?? Os guris do HC, onde sempre estive um pouco mais envolvido, sempre quiseram fazer diferente, mas acabam esbarrando na sua própria herança provinciano-mafiosa-capixaba – nossa, essa foi bonita, hahahahahaha!!! - e acabam não conseguindo fazer muita coisa.

Apesar de muitas bandas legais terem surgido nos últimos 10 anos, nêgo aí cai no lance do siri na lata e aquele blá blá bla que você já conhece. Mas a coisa pode mudar, ainda acredito nisso, não sei como, mas acredito!

DN: Quais os sons que você ouve desde sempre? E o que anda fazendo a tua cabeça atualmente?

RL: Desde sempre: Bad Religion, Bad Brains, 7seconds, Fugazi, Social Distortion, Ratos de Porão, Mukeka di Rato... E tenho ouvido umas coisas diferentes daqui que meus amigos engajados que moram numa casa perto da minha aqui no Centro: The X, God Speed Your Black Emperor (eu achava isso chato, agora gosto), Liars, Boy Sets Fire, Bob Dylan, Hot Water Music, lances de eletrônico que pego de referência com o Marcel (do Zémaria), principalmente depois que você me deu aquela merda de CD de trance que eu passei a ouvir de vez em quando... E Jamelão, Tim Maia, 5º Andar e uns proibidões afins e divertidíssimos.

DN: E como anda a vida em Sampa?

RL: Tenho sentido necessidade de ser menos vagabundo velho. Eu fico de segunda a quarta coçando o saco, leio pra caralho e talvez por isso tenho sentido falta de fazer uma grana. Aqui em SP tudo é muito caro e fazer um extra é legal... Bom, a Rua Augusta ta aí pra isso, não??? Hahahahahahaha!!!

DN: Como fica o selo de vocês (Terceiro Mundo) após o contrato com a Deck?

RL: Por enquanto, parado. Mas quem poderia te responder isso direito é o Aly ou o Nô. Mas o que posso te adiantar é que o selo não acabou. Eu tenho pretensão de fazer outro selo no futuro, mas isso vai como vou estar vivendo daqui um ano, e isso tá longe...

DN: Para finalizar, quando é que você vai raspar esta barba horrível???

RL: Olha aqui meu cumpadi, eu nunca falei nada daquela sua cabeleira que parecia a de uma jovem pentecostal (N. do E.: eu era cabeludo...)! Quando você tirou eu pensei comigo: "finalmente o cara se mancou!”, mas eu nunca te disse nada diretamente. Então, por favor, seja ético, no mínimo um capixaba, e “ria pela frente e faça careta por trás”! Me deixa com a minha barba, porra!!!
Valeu!

quinta-feira, setembro 02, 2004

Atualizações!

Em breve este blogg será atualizado com novas notícias/matéria, reportagens, fotos-e-o-escambau.
Apesar de poucos comentários virtuais, tem um monte de gente me cobrando pessoalmente para que eu o atualize. Estive muito ocupando com alguns trampos, mas até o final desta semana tem coisa nova. Agradeço a presença e a força dos que passam por aqui. Valeu!